Como contei anteriormente, quando questionei a aeromoça sobre a minha máscara de oxigênio, ela simplesmente levantou a dela e sorriu dizendo que estava tudo bem, que não havia problema. Não tem problema porque não é você que está sem máscara - pensei. Então me endireitei na cadeira e comecei a refletir: as máscaras estavam todas arriadas a minha frente, isso era fato.
TENTANDO ENTENDER...
As máscaras arriadas são sinais inequívocos de despressurização da aeronave, outro fato incontestável. Até onde eu sabia, a despressurização dependendo da altitude, deixa o avião sem oxigênio podendo até comprometer a estrutura do mesmo.
TENTANDO ENTENDER...
As máscaras arriadas são sinais inequívocos de despressurização da aeronave, outro fato incontestável. Até onde eu sabia, a despressurização dependendo da altitude, deixa o avião sem oxigênio podendo até comprometer a estrutura do mesmo.
Mas cheguei a conclusão que estas afirmações não combinavam com a realidade. Primeiro, eu não estava com a mínima falta de ar mesmo sem máscara. Segundo, o avião, embora eu sentisse que estava em direção descendente descia suavemente, não se tinha a sensação de queda brusca. Além disso, nenhum sinal de tremores devido a turbulências. Ao chegar a estas conclusões comecei a tentar relaxar.
FICANDO CALMA...
Procurei desviar a atenção dos mascarados passageiros à minha frente, permanecendo atenta a uma possível sensação de desmaio que poderia me acometer. Esperei alguns segundos e nada. Então suspirei profundamente, fechei os olhos, e comecei a me acomodar mais confortavelmente na cadeira.
Foi então que, com o coração disparando, ouvi o grito. A aeromoça que se encontrava na frente do avião, próxima a cabine dos pilotos, começou a falar aos berros:
- SENHORES PASSAGEIROS: COLOQUEM SUAS MÁSCARAS E RESPIREM NORMALMENTE!
Gritando e chorando, ela repetia sem parar esta frase de filme de terror aéreo.
Imediatamente pensei: se esta criatura que está próxima da cabine de comando está histérica deste jeito deve ser porque recebeu alguma informação de desastre iminente do nosso glorioso comandante.
Até então, eu ainda estava incrédula com relação a algum problema real e encantada com a minha calma interior e com meu auto-controle (esta palavra tem hífen depois da reforma ou nunca teve?).
PÂNICO AFINAL!!!
Neste momento porém, confesso que fiquei nervosa. Nervosa estou sendo modesta. Seria mais justo dizer completamente apavorada. Tão ou mais apavorada que os meus companheiros de infortúnio.
Comecei a procurar uma cadeira vazia no avião para poder obedecer à ordem da aeromoça caso tivesse tempo de chegar até lá. Os meninos que estavam sentados à minha frente sentiram meu desespero e me alcançaram a máscara que estava na cadeira vazia, entre eles.
RESPIRAR NORMALMENTE?
Eu a puxei e o elástico aguentou. Coloquei-a no nariz, mas respirar normalmente é completamente impossível com o coração querendo sair pela boca. Respirei do jeito que deu.
Ficamos assim todos nós, não sei por quanto tempo, máscaras no nariz, olhos arregalados e corações acelerados. Quem era religioso rezava. Quem não era, nesta altura do campeonato acho que provavelmente rezava também.
Alguns faziam o retrospecto de sua vida, já lamentando o que deixaram de fazer, com saudades antecipadas dos que ficavam para trás. E todos nós sem exceção, aguardávamos o desfecho que não prometia nada de bom.
Até que finalmente ouvimos a voz do comissário nos comunicando que já podíamos tirar as máscaras. Nos olhamos meio desconfiados, não sabendo mais em quem ou no quê acreditar.
EXPLICAÇÕES
O silêncio era fúnebre, cortado de vez em quando pelo choro de um bebê. Mais um tempo interminável se passou até que ouvimos a voz do nosso sempre glorioso comandante nos explicando que o avião tinha sofrido uma despressurizaçãozinha básica, nada de se preocupar, que ele tinha descido a uma altitude que não dependia mais do pressurizador estragado e bobalhão e que estava tudo ótimo, continuávamos seguindo para Porto Alegre, só que provavelmente nos atrasaríamos um pouco. Agradeceu a colaboração de todos e mandou que apreciássemos o serviço de bordo que já iria começar.
E eu que pensei que provavelmente desceríamos no aeroporto mais próximo para trocar de avião por outro que funcionasse, fiquei imaginando nosso piloto com o cotovelo para fora da janela, enfiando a cabeça nela para olhar além das núvens como faz um motorista de caminhão quando quer ver adiante, na estrada.
SERVIÇO DE BORDO?
E querer que a gente apreciasse o serviço de bordo só podia ser gozação. Como apreciar alguma coisa com as máscaras balançando na nossa cara e sem olhar para a aeromoça histérica, com seus olhos e nariz completamente vermelhos de tanto que a coitada chorou?
Fiquei imaginando como ela tinha enganado bem nas provas para ser admitida ali, mas depois aceitei o fato de que ninguém tem como prever a reação de uma pessoa num caso de emergência real. Nem ela mesma. A verdade é que a maioria não quis comer nem beber nada.
PODERIA SER O ÚLTIMO, VAI SABER...
Os meninos na minha frente não acreditaram quando além do sanduíche que a aeromoça me entregou, eu pedi para ficar com os deles, já que eles não iriam comer mesmo. Tive que explicar que o meu problema não era fome, mas que não iria desperdiçar aqueles que poderiam ser os últimos sanduíches da minha vida. Ainda não tinha certeza se desceríamos sãos e salvos. Mas descemos tranquilamente.
FINALMENTE...
Chegamos com chuva. Naquele tempo o aeroporto não havia sido reformado ainda e paramos longe da entrada. O comissário começou a nos entregar os guarda-chuvas para que não nos molhássemos caminhando até lá, quando um passageiro perguntou: - Cadê o papel-higiênico? Todos nós rimos.
Hoje eu penso que poderia ter exigido uma indenização devido à ausência da minha máscara e ao risco de vida que corri. Mas o alívio de pisar em terra é tão grande nesses casos que tudo o que se quer é esquecer e não ter que falar sobre isso tão cedo. Dessa eu escapei.
Oiê Denize! Passei aqui pra te desejar um bom dia! E também para avisar que tem um Selinho pra você lá no meu blog. (www.bananacomfarinha.blogspot.com) Espero que goste de selinhos.
ResponderExcluirE claro, não poderia deixar de comentar a postagem, muito, muito legal. Parabéns!
Beijo no coração e fica com Deus.
Gostei muito de ler sua história. Se fosse um livro eu o leria por inteiro. Esta é uma prova de que artigos longos podem ser muito bem vindos se a escrita prende a atenção do leitor.
ResponderExcluirFico feliz que nada de grave tenha acontecido. Já passei sufoco dentro de avião também e sei que é horrível. Tudo o que a gente quer é sair dali o quanto antes.
Parabéns pelo artigo. Vc não deve JAMAIS desistir de escrevê-los.
Guria do céu... MULHER SEM MÁSCARA!
ResponderExcluirOlha, acho que nunca rí tanto na minha vida e pena que SOZINHA!!!!!!!! porque é demais...
Ah, sinceramente, Denize tu merece um prêmio por essa postagem.
Meu Deus do céu, magnífica chegada minha cara.
Não saberia dizer o que é mais engraçado.
Ainda bem que não foi...te juro que não chegaria viva por enfarto!
beijos e amei demais.
Maria Souza - Porto Alegre - RS
Ih, menina! Não sei se começo a rir ou a chorar! Acho que vou rir, de nervosa! Rsrsrs! Eu passei por um sufoco desses quando o avião em que eu estava desceu em Curitiba. O trem de pouso quebrou com a batida no chão e nós achamos que o avião não ia parar! Foram segundos de pavor! Mas, já passou. Tô sempre pronta para viajar! Rsrsr!
ResponderExcluirBjão!
Denize do cèu! Agora entendi o porque tu odeia avião!
ResponderExcluirDepois desse qualquer um! Aposto que todos aqueles passageiros ficaram com certo trauma depois dessa.
E esse texto ficou fantástico!!!
Beijos, Ju
Oi, Josy. Claro que vou pegar o meu selinho! Mas como recebi outros, vou tirar um dia só para fazer essas postagens. Obrigada pelo elogio! Bjs Denize
ResponderExcluirObrigada pela força, Leila! Mas você viu que na realidade, não corremos nenhum risco real. Agora, viajar com as máscaras arriadas não foi nada agradável. Ah, vou tentar não desistir. Bjs Denize
ResponderExcluirMaria, posso te garantir que agora também acho engraçado, mas na hora... E tu já viste alguém se preocupar em comer sanduíches numa hora dessas..rsrs? Mas fiquei numa calma, que hoje quando me lembro, nem acredito. Agora calmo mesmo, foi o Comandante, tu não achaste? A aeromoça então, nem se fala... Bjs Denize
ResponderExcluirClaudinha, o seu susto foi maior que o meu. Como eu disse, não corremos nenhum risco, mas ficar sem o trem de pouso, me parece bem mais grave. Mas agora já passou, ainda bem! E eu, embora deteste, também estou sempre pronta para voar. Não nasci com asas mesmo...rsrs Bjs Denize
ResponderExcluirFoi feia a coisa mesmo, Juliana. Mas não é que eu odeie avião, é que não consigo deixar de acreditar que se fosse para voar, teria nascido com asas...rsrs. Mas os traumas a gente acaba superando. Já voei muito depois disso e sem problemas. Obrigada, viu? Bjs Denize
ResponderExcluirGraças á DEUS, um consolo, vou tentar não ficar nervosa. É amiga as pessoas não sabem que reação vão ter quando passam por certas situações. Tem certas coisas pelas quais passamos, que na hora ficamos apavoradas e depois de algum tempos nos divertimos com a situação. Espero que minha viagem seja bastante tranquila.
ResponderExcluirBjs.
A comissária ao seu lado deveria ser advertida. Uma pena não ter reclamado da falta de profissionalismo dela.
ResponderExcluirEu ri no finalzinho quando vc disse: ..., fiquei imaginando nosso piloto, com o cotovelo para fora da janela, enfiando a cabeça nela para olhar além das núvens, como faz um motorista de caminhão quando quer ver adiante, na estrada...
Sabe que eu fiz a imagem na minha cabeça dessa sua narração!
Não tenha medo, Claudine, como eu disse antes, esta foi a única viagem complicada que fiz, as outras foram muito tranquilas! Bjs Denize
ResponderExcluirSis, eu te garanto, que numa situação dessas, a última coisa que passa pela cabeça da gente é reclamar. Fica tudo muito confuso. Parece irreal... E quando passa, tudo o que se quer é esquecer. E ainda tive que enfrentar a viagem de volta, logo em seguida, olha só que beleza! Mas o nosso piloto realmente estava numa tranquilidade de dar inveja. E quando percebi que tinhamos descido bastante, embora suavemente, não sei por que me ocorreu essa bobagem. O meu senso de humor me acompanha sempre, como podes ver... Bjs
ResponderExcluirDenise... muito bom, você é ótima em escrever histórias e nos prender a atenção.... adorei!
ResponderExcluirVocê deveria começar a pensar em escrever um romance de suspense e comédia.... você é muito boa nisto!
Beijo no coração
Excelente a descrição do texto, com todos os detalhes. Pude imaginar uma situação real como se estivesse dentro do avião!^^
ResponderExcluirOlá amiga Denize!
ResponderExcluirQue susto heim?!
Pelo menos tudo não passou de um susto.
Beijo no coração, Fernandez.
Fiquei preso a leitura, muito boa mesmo, e graças que tudio não passou de um susto. Ufa!
ResponderExcluirAbraços forte
Denize, olá!
ResponderExcluirFinalmente chegamos, sãs e salvas! Eu lhe disse que estava em suspenso ali, naquele vôo com você e já sentindo tonturas e enjôo, por causa da minha labirintite. Ufa, terminou bem!
Agora, é pegar as malas e rumar p/ Sorocaba. Acho que minha mudança será semana próxima, saberemos só na 2a. ou 3a.f, em cima da hora, já pensou? Tô com uma preguiça desta vez... agora vem você, me ajudar aqui!
Beijo, Vera.
Olá Denize,
ResponderExcluirQue situação complicada hein? E realmente é verdade sobre o comportamento de alguém numa emergência: a aeromoça deveria estar preparada para uma emergência simulada; agora, em uma (quase) real, ela se desesperou, rsrsr. Acho que muitos de nós também faríamos o mesmo.
Na segunda vez que viajei de avião passei por uma turbulência de dar frio na barriga, e realmente é uma sensação muito ruim, pois não temos controle nenhum da situação. Mas graças a Deus correu tudo bem, e estou aqui para comentar =)
Beijos.
Oi Valéria, obrigada, quem sabe algum dia eu sigo a sua sugestão... Bjs
ResponderExcluirOi Príncipe, foi emocionante mesmo e tentei passar a emoção que senti na hora. Mas foi um susto e tanto! Abs
ResponderExcluirViu só, Vera, no final tudo terminou bem e graças a isso posso estar aqui, incomodando os amigos queridos e contando minhas aventuras...rs. Bjs
ResponderExcluirOi Fernandez! Como a gente costuma dizer, foi uma baita susto! Mas eu sempre soube que ninguém iria se livrar de mim assim tão fácil...rs.
ResponderExcluirBjs
Oi Iuri, também penso que não devemos julgar a reação da aeromoça, não tem como prever, como você disse, nossa reação numa situação real. Turbulências já peguei várias, de abrir os armários, mas hoje em dia já não me apavoro tanto... Bjs
ResponderExcluirOi Genilda, eu realmente me esforcei para passar as "emoções" deste voo para quem lê. Espero ter conseguido... Bjs
ResponderExcluirAcho que ao ler o seu post já me sinto mais preparada para a eventualidade. É como se a estivesse acompanhando na jornada. Ainda bem que houve um final feliz.
ResponderExcluirObrigada por compartilhar.