Estive lendo um artigo onde se cogitava a existência do Deus dos Patetas, que protegeria os distraídos. Fico pensando que se ele existisse, teria muito trabalho comigo. Uma simples ida ao médico e pronto! Mais um dia daqueles.
O médico abriu a porta do consultório para que eu entrasse. Tinha ido ao Posto Médico da Empresa, porque estava sentindo uma forte dor de estômago. Então eu disse:
- Bom dia, Doutor - entrei e sentei.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi a cadeira. Era extremamente confortável. Geralmente as cadeiras dos consultórios médicos são aquelas básicas, com o estofamento duro. Mas aquela não. E girava. Fiquei encantada.
- Que cadeira ótima, Doutor! - eu disse, e então olhei para ele.
Ele tinha fechado a porta e estava ao lado dela me olhando muito sério.
- Eu conheço este olhar - pensei. Tem alguma coisa errada comigo! Comecei a reparar nas minhas roupas, as meias eram da mesma cor, os sapatos do mesmo par, tudo parecia normal. Olhei em volta, havia quadros na parede, um diploma.
Foi então que olhei para a mesa à minha frente. Alguma coisa não estava certa. Nunca tinha visto uma mesa como aquela. As gavetas estavam todas do lado de fora.
- Não faz sentido - pensei de novo - alguém fabricar uma mesa deste jeito. Quando uma pessoa quiser pegar uma coisa na gaveta, terá que levantar e caminhar até ela. Se tentar por cima da mesa não vai alcançar.
Meu coração acelerou.
- Pense, pense! - disse a mim mesma.
Olhei para o médico. Ele continuava parado observando todos os meus movimentos. Voltei a olhar para mesa. Não sei precisar quanto tempo se passou.
De repente, tudo se ajustou: não acreditei! Não era a mesa que estava com as gavetas do lado de fora! Era eu que estava sentada na cadeira do médico do lado de dentro da mesa!
- E agora? - pensei mais uma vez - o que digo a ele?
Levantei vagarosamente de cabeça baixa, respirei fundo e disse:
- O senhor me desculpe, mas sentei na sua cadeira sem querer! Confortável ela - e arrisquei uma olhadinha.
Ele nem me olhou, apenas ocupou seu lugar de direito.
Então, sentei no lugar certo, e aguardei. Só então ele me dirigiu o olhar e perguntou:
- Qual o seu problema? - como se esperasse que eu dissesse que tinha batido com a cabeça e estava delirando.
- Dor de estômago - respondi.
Ele pegou uma receita escreveu alguma coisa e me entregou. Li e vi que ele me receitara um remédio para o estômago.
Já ia levantar quando vi que ele estava escrevendo outra coisa. Peguei o novo papel e vi que era um atestado médico para três dias de repouso. Achei que ele estava me considerando um perigo para a Empresa ou até quem sabe, para a própria Sociedade.
Levantei rapidamente, com medo que o próximo papel que ele me entregasse fosse um encaminhamento para internação imediata em um hospital psiquiátrico.
Murmurei um obrigada e saí aliviada. Mais um dia daqueles, pensei. Eu tinha 19 anos na época, e mal sabia que este era apenas um dia de uma série interminável.
O médico abriu a porta do consultório para que eu entrasse. Tinha ido ao Posto Médico da Empresa, porque estava sentindo uma forte dor de estômago. Então eu disse:
- Bom dia, Doutor - entrei e sentei.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi a cadeira. Era extremamente confortável. Geralmente as cadeiras dos consultórios médicos são aquelas básicas, com o estofamento duro. Mas aquela não. E girava. Fiquei encantada.
- Que cadeira ótima, Doutor! - eu disse, e então olhei para ele.
Ele tinha fechado a porta e estava ao lado dela me olhando muito sério.
- Eu conheço este olhar - pensei. Tem alguma coisa errada comigo! Comecei a reparar nas minhas roupas, as meias eram da mesma cor, os sapatos do mesmo par, tudo parecia normal. Olhei em volta, havia quadros na parede, um diploma.
Foi então que olhei para a mesa à minha frente. Alguma coisa não estava certa. Nunca tinha visto uma mesa como aquela. As gavetas estavam todas do lado de fora.
- Não faz sentido - pensei de novo - alguém fabricar uma mesa deste jeito. Quando uma pessoa quiser pegar uma coisa na gaveta, terá que levantar e caminhar até ela. Se tentar por cima da mesa não vai alcançar.
Meu coração acelerou.
- Pense, pense! - disse a mim mesma.
Olhei para o médico. Ele continuava parado observando todos os meus movimentos. Voltei a olhar para mesa. Não sei precisar quanto tempo se passou.
De repente, tudo se ajustou: não acreditei! Não era a mesa que estava com as gavetas do lado de fora! Era eu que estava sentada na cadeira do médico do lado de dentro da mesa!
- E agora? - pensei mais uma vez - o que digo a ele?
Levantei vagarosamente de cabeça baixa, respirei fundo e disse:
- O senhor me desculpe, mas sentei na sua cadeira sem querer! Confortável ela - e arrisquei uma olhadinha.
Ele nem me olhou, apenas ocupou seu lugar de direito.
Então, sentei no lugar certo, e aguardei. Só então ele me dirigiu o olhar e perguntou:
- Qual o seu problema? - como se esperasse que eu dissesse que tinha batido com a cabeça e estava delirando.
- Dor de estômago - respondi.
Ele pegou uma receita escreveu alguma coisa e me entregou. Li e vi que ele me receitara um remédio para o estômago.
Já ia levantar quando vi que ele estava escrevendo outra coisa. Peguei o novo papel e vi que era um atestado médico para três dias de repouso. Achei que ele estava me considerando um perigo para a Empresa ou até quem sabe, para a própria Sociedade.
Levantei rapidamente, com medo que o próximo papel que ele me entregasse fosse um encaminhamento para internação imediata em um hospital psiquiátrico.
Murmurei um obrigada e saí aliviada. Mais um dia daqueles, pensei. Eu tinha 19 anos na época, e mal sabia que este era apenas um dia de uma série interminável.
E você, já viu uma mesa como essa?
Muito boa esta história.
ResponderExcluirCatarino
Não acho que vc errou, ele que colocou a mesa no lugar errado! rrsrsrs
ResponderExcluirDenize
ResponderExcluirEu imagino que o médico é que estaria apavorado se fosse num consultório dentário !
Mais uma vez me diverti muito.
Um abraço.
Nelson
Obrigada Catarino, mas você viu que a minha vida não é fácil...rs. Abs Denize
ResponderExcluirEu também acho, Valéria... Obrigada pela solidariedade!...rsrsrs Bjs Denize
ResponderExcluirÉ verdade, Professor! Se fosse num consultório dentário a situação dele seria pior, coitado!...rs. Abs Denize
ResponderExcluirAdorei a história Denize. :-) rsrsrsrs
ResponderExcluirNunca tive o privilégio de ver a mesa por este ângulo... :-) rsrs
Parabéns pelo excelente texto.
Beijos, Fernandez.
Olá Denize,
ResponderExcluirEsta história é muito divertida, até porque de médico e louco todos nós temos um pouco.
Abraço
Confesso que ao longos dos anos de minha existência não tive ainda essa visão referenciada na sua mesa como exemplificas.
ResponderExcluirOi Fernandez! Reconheço que não é fácil enxergar uma mesa dessa forma. Requer uma técnica apuradíssima... rsrsrs.
ResponderExcluirA idéia é essa mesmo, Geraldo! Alegrar um pouco o domingo dos amigos... E essa frase que voc citou, talvez tenha algum fundo de verdade...rs. Abs Denize
ResponderExcluirMinhas Poesias Irradiantes: Depois deste episódio, também nunca mais encontrei uma mesa como essa...rs. Abs
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